domingo, 16 de dezembro de 2007

Tenho medo da morte sim!

A idéia de morte tem me cercado. Aliás, ela nos cerca a todos, inevitavelmente. Mas tenho notado que, a mim, sem perceber, a morte vem se mostrando cada vez mais, em ausências e presenças entre mim e o outro.
Mas como não? A cada ciclo, ainda que fragmentado, notamos um fim, uma morte. Afinal, fim e morte estão ali, conjuminados. A morte, então, deixa de ser simplesmente um todo fatal e definitivo, e constitui-se por inúmeras perdas e fins que nos orientam cotidianamente.
As vezes, a morte de algo designa um salto no plano das conquistas. A morte de um momento configurado pela angústia pode indicar a superação. Nesse caso, a morte é força de vida, ou pulsão de vida, ainda que paradoxalmente. Porém, a transformação, que conduz de um momento até o outro, também mostrará a força da morte. A morte de algo quase nunca é pouco significativo/representativo. Inclusive a passagem de um momento de angústicas para outro livre dela pressupõe a dor da perda, que será sempre o inchaço do corpo se adaptando ao novo formato.
Agora, a morte das morte todas, entendida como fim definitivo, ainda que de uma vida terrena e blá-blá-blá, é de uma crueldade aterradora. Pensar sobre a impossibilidade de realização, ainda que a realização não pressuponha grandes fatos, é de uma angústia aguda. Presenciei a morte de meu avô dia desses e, diante da materialização do fato, senti uma coisa estranha, uma sensação de que a morte deveria ser algo mais triunfal que aquela. Mas tudo o que cerca a cerimônia, o ritual de despedida, o abandono e adeus do corpo, o fim da ciclo biológico e o início da degradação do corpo físico, causou-me questões que só depois se concatenaram. Aquele pouco que senti inicialmente tranformou-se num vazio sem nome. Um vazio escuro, uma falta de sentido.
Isso tudo me lembrou que, um dia desses, disse ao Du e à Paula que não tinha medo da morte. Retomo aqui para dizer que mudei de idéia e constatei que o medo que se constrói entorno da morte me assombra também. A angústia diante de toda mudança, inclusive a minha ida à Porto Alegre, me faz desordenado, penso, então, na idéia da morte como fim absoluto: terrível pavor.
Lembrei também da peça teatral, da qual cito a foto acima, dirigida pela amiga Thais D'Abronzo, que discorre sobre o mesmo tema. "Foi tarde" parte da discussão ontológica suscitada por A morta, do genial Oswald de Andrade, e a partir dessa linha propõe seqüências imagético-líricas que conduzem, por quase todo o tempo, para essa angústia diante da morte que falei a pouco. A construção da dramaturgia, das grandes riquezas da peça, faz-se como uma costura que vai se despregando aos poucos do tecido causando o temor do fim que terá, e esse fim que se espera não chega nunca, constituindo a angústia da espera por ele como a base dramatúrgica. As intensidades dramáticas do estar diante da morte, assim como já escreveu Cruz e Sousa, são demostradas sinestésicamente por ações físicas sintonizadas numa energia constante que transfere para toda a sala de espetáculo um incômodo inevitável. É o incômodo da dor da perda, da constatação do quão inevitável ela é.
Notei que agora a peça faz ainda mais sentido a mim, como acontece diante do amadurecimento do homem em relação às coisas do mundo. Talvez porque a minha proximidade com a morte esteja maior, talvez porque ela tenha me cercado, talvez porque logo estarei longe da Thais, e terei dificuldades em ver suas peças. Talvez porque esteja próximo de me distanciar dos meus amigo todos, talvez... Ai que medo.

*Imagem: Espetáculo "Foi Tarde", by Camila Fontes

2 comentários:

Anônimo disse...

Neste Mundo apesar de as vezes haver varias dificuldades com varias coisas o meu maior medo
é a MORTE !
É uma coisa que me rodeia todos os dias .e ha uma pergunta que nunca ninguem me soube responder !
e entao para que nascemos? nascemos para morrer? porque é que tem que ser assim? alguns tem uma vida muito curta outros tem uma vida um pouco mais longe ! mas tenho a certeza que toda a gente gosteria de viver até ao 500 e 600 anos ! mas uma das coisas impossiveis de acontecer neste mundo vai ser mesmo isso ! e posso dizer que o meu maior sonho nunca mas nunca morrer! fico com medo quendo penso que um dia vou morrer ! fico com aquele angustia no meu coraçao ! fico como se fosse um bebe sem defesas nenhumas e nao me pudesse proteger do mal que me podiam fazer ! :'(

tenho tanto mas tanto medo da Morte ..mas nao tenho medo em admiti-lo ! simplesmente nunca queria morrer!!!

Unknown disse...

Tenho não somente medo da morte, mas tambem medo do momento em que vamos morrer e identificamos isto, pois a gente muitas vezes sabemos que estamos para morrer e nosso corpo desencadeia uma serie de sinais que demonstram isto: mal estar, desconforto, dor, angustia por nao poder ver alguns entes queridos e deixar uma mensagem, pedir ajuda num ato de desespero mesmo sabendo que ninguem podera fazer nada para impedir. Então havera um breve periodo para aceitação e se for rapida nao sentira tanto este sofrimento, mas se for lenta entao a agonia fará companhia indesejavel