quinta-feira, 31 de janeiro de 2008

Um viva a mim mesmo!



Vamos lançar a verdade. Qual é o pesquisador intelectual, principalmente da área de humanas, que não se torna egocêntrico diante de sua produção? Nossa, é de muita grandeza o espaço-tempo que se ocupa na construção de uma pesquisa, por mais que ela seja sobre a-utilização-dos-períodos-compostos-na-obra-de-José-de-Alencar-:-a-complexidade-patriótica-na-estrutura-do-texto. Ainda que eu não tenha feito nenhum trabalho como esse sobre a obra de Alencar, sei que o meu trabalho não é a coisa mais importante do mundo, e também sei que ele não ajudará na cura do câncer, nem na despoluição do rio tietê. No entanto, nesta semana venho trabalhando na adaptação de minha monografia da especialização, em busca de fragmentá-la em um ou dois artigos. Puts, quando eu li todo o meu trabalho em busca de fragmentos que valeriam a pena ser exibidos fiquei tão lisongeado. É tão bom quando você distancia-se do seu próprio trabalho e pode voltar a lê-lo sem que ele faça parte de você. Obviamente que encontrei várias coisinhas que me desagradam, mas percebi uma discussão tão bacana, que me estimulei com os artigos que resultarão. É nesse sentido o egocentrismo que eu apontava. Algo que eu sei que será interessante só para alguns, mas que resume um pouco de minhas reflexões continuadas por cerca de um ano. A verdade é que muito da nossa produção intelectual é muito mais para nós mesmos do que para o outro. Se o outro puder usufrui-la, incrível, mas se ela puder refletir um pouco de nós em um determinado momento, e como estamos marcados naquele espaço, isso já será a chave do negócio. A foto acima é de Cindy Sherman, objeto de estudos do meu trabalho. Continuaremos juntos agora no mestrado. Eu, Cindy, e outros artistas. Tudo para que um ano depois da conclusão eu possa ler a minha dissertação e pensar, nossa, arrasei! Irônico, né?!

quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

A lista

Faça uma lista de grandes amigos
Quem você mais via há dez anos atrás
Quantos você ainda vê todo dia
Quantos você já não encontra mais
Faça uma lista dos sonhos que tinha
Quantos você já desistiu de sonhar!
Quantos amores jurados pra sempre
Quantos você conseguiu preservar
Onde você ainda se reconhece
Na foto passada ou no espelho de agora
Hoje é do jeito que achou que seria?
Quantos amigos você jogou fora
Quantos mistérios que você sondava
Quantos você conseguiu entender
Quantos segredos que você guardava
Hoje são bobos ninguém quer saber
Quantas mentiras você condenava
Quantas você teve que cometer
Quantos defeitos sanados com o tempo
Eram o melhor que havia em você
Quantas canções que você não cantava
Hoje assobia pra sobreviver
Quantas pessoas que você amava
Hoje acredita que amam você
Oswaldo Montenegro

Podem falar o que for, mas Oswaldo Montenegro é pontual nesta letra. Quem não sofre ao pensar nessa lista? Amei esta música muito tempo antes, e agora amo ainda. Me faz pensar em todos os valores dos relacionamentos que tive, e me faz perceber quanto de minha história e maturidade são resultado deles. Por quanto tempo pensamos que somente iríamos transferir o quarto da Aline, local de nossas mais íntimas reflexões, para qualquer outro apartamento de luxo, fruto de nossa bem sucedida carreira (hahahahahaha). A inocência de pensarmos sobre o futuro... aos 20 o primeiro carro, aos 25 apartamento, e o casamento, e as viagens. Puts, erramos feio. Mas, crescer é isso. É reconhecer na pele o que é ser adulto. Agora somos, já não nos vemos tanto. Mas pelo menos guardo em mim muito dos meus amigos amados. A pena é que, agora, nossos encontros são em ocasiões especiais, e não mais rotineiramente. Uma das coisas chatas de envelhecer...tomar rumos diferentes.

terça-feira, 29 de janeiro de 2008

Enfim, de volta das férias...


Sabe, eu acho que não sou capaz... As vezes me sinto assim, completamente incapaz. Incapaz de escrever, de ler, de discutir, de reagir, de correr, de trabalhar. Os dias de total inércia me comovem como os filmes de Bergman. Me acalantam comos os sambas lentos e arredondados. Aliás, a palavra inércia parece sugerir a mim um quarto escuro cheio de filmes e comidas. Eu me lembro que em tempos anteriores eu sofria da terrível depressão de domingo. Logo que acordava, bem tarde e bem de ressaca, sentia o ritmo lento do meu corpo e já logo pensava na indescritível segunda-feira-cheia-de-trabalho-e-aulas-pulando-para-todos-os-lados-da-minha-manhã-tarde-e-noite. Então, minha primeira reação era sempre caminhar lentamente até o shop beef, comprar a maior marmitex com saquinho de alface acompanhando, ir até a locadora e perder algum tempo, o quanto fosse preciso, para achar aquele, sabe aquele, filme, ou aqueles. Então voltava para casa cheio de nada dentro de mim, não querendo pensar sobre o amanhã que logo viria, mas pensando exclusivamente sobre ele. Então comia até doer. Deitava em meu quarto, aproximava-me do computador e colocava os filmes, que de um em um iam tomando conta de meu tempo, até chegar no absoluto final do tempo livre. Quando olhava para o relógio e via que estava próximo da meia noite, e que a segunda estava por segundos tomando conta de mim, me lavava de angústia e tentava dormir atordoado pela idéia do não querer. Depois, no ano seguinte, tomei uma fantástica decisão de trabalhar bem pouco na segunda...quase nada. Resolvi um problema. Mas sempre possegue em mim a preguiça. Aceito-a. Pode entrar. Me tome de vez em quando. Não luto contra, acho besteira viver alucinado. Gosto dos procedimentos que sugerem um pouco a pouco. Não sou capaz de mais do que isso. Parei de escrever por um tempo. Queria voltar, mas tinha preguiça. Até que voltei. Quem sabe não retomo... sem pressão. Só sentindo o prazer de estar aqui. Sabe, a vida me tem sido tão dura ultimamente. Tem me levantado tantos muros endurecidos de concreto. Para que é que vou ficar chocando com a cabeça por eles? O melhor é ir cavando aos poucos, quando a vontade pedir. Sempre que possível tirarei férias. São ótimas para a mente. Mas quando elas acabam, aqui estou eu para marcar... Retomo sim, mas sabendo que outras férias virão, e que as segundas ferias voltarão a ser domingo.
*Foto da obra de Leonilson